Alguns
microrganismos contribuem de forma saudável no processamento, na segurança e na
qualidade de certos produtos alimentares. Contudo, muitos microrganismos estão
envolvidos em processos que causam efeitos indesejáveis nos próprios alimentos
ou na saúde dos consumidores, levando quer à deterioração, quer à ocorrência de
doenças de origem alimentar. A maioria das doenças transmitidas pelos alimentos
é de origem microbiológica, geralmente causadas por manipulações inadequadas,
infeções cruzadas, confeção ou conservação deficientes. Estas doenças podem ser
agudas ou crónicas, envolvendo não só o sistema digestivo, mas também o
nervoso, circulatório, urinário e respiratório. Assim, estas são provocadas por
microrganismos (infeções alimentares) ou pelas suas toxinas (toxinfeções alimentares),
podendo ser prevenidas com a adoção de práticas adequadas na preparação,
confeção e conservação dos alimentos.
É importante que a população siga uma alimentação saudável, nutricional e microbiológica, constituindo um fator importante na preservação e promoção da saúde, em especial a população escolar, devido à sua vulnerabilidade. As condições estruturais dos estabelecimentos, associados às práticas utilizadas na manipulação e na confeção dos géneros alimentícios, continuam a ser factores preponderantes na prevenção das toxinfeções alimentares. Para além da vigilância epidemiológica, continuam a ser necessárias intervenções no terreno que procurem restringir a sua ocorrência.
O Decreto-Lei
n.º 82/2009, de 2 de Abril, refere no artigo 5, no ponto 3 que compete às
Autoridades de Saúde “vigiar o nível sanitário dos aglomerados populacionais,
dos serviços, estabelecimentos e locais de utilização pública e determinar as
medidas corretivas à defesa da saúde pública”.
Apesar da
qualidade microbiológica das refeições fornecidas nos refeitórios escolares do
pré-escolar e no 1º ciclo constituir uma das preocupações das autarquias, o
Departamento de Saúde Pública, em conjunto com as Unidades de Saúde Pública dos
ACES propuseram o desenvolvimento do Programa de Promoção da Qualidade
Microbiológica das Refeições, em Estabelecimentos de Educação, através de um
sistema de vigilância microbiológica.
Desta forma, o
programa tem como objetivo promover a qualidade microbiológica das refeições
nos estabelecimentos de educação (Ensino pré-escolar e do 1º Ciclo),
monitorizar a qualidade microbiológica das refeições fornecidas, identificar
situações de risco, determinar medidas corretivas e promover a formação dos
manipuladores de alimentos, do concelho de Vila Real de Santo António. As
Técnicas de Saúde Ambiental também realizam colheitas de amostra de refeições
nos estabelecimentos educativos públicos, de acordo com o programa.
Material necessário para a
realização das colheitas de amostra
Colheitas
de amostras de alimentos
Com as
Técnicas de Saúde Ambiental realizei colheitas de amostras de Alimentos nos
Estabelecimentos Escolares, mais propriamente, nos refeitórios. Quando as
colheitas se efetuam é necessário acompanhá-las de um Boletim de Colheita de
Alimentos para ser entregue no laboratório, até duas horas após a colheita.
Na realização
de colheitas de amostras de Alimentos, é necessário estar devidamente equipado
(touca, máscara de proteção respiratória, proteção para o calçado, bata
descartável e luvas esterilizadas), para não haver contaminação da colheita de
amostra de alimentos.
A área/local
onde se realiza a colheita deve ser limpo e desinfetado com solução anti-séptica.
Os utensílios/material de colheita também devem ser esterilizados, devidamente
acondicionados, devendo ser posicionados na área de trabalho, de modo a impedir
a ocorrência de uma contaminação da amostra durante o processo de recolha.
As refeições,
que serão colhidas para análise, deverão ser entregues no prato de refeição,
que é entregue ao aluno, após empratamento, com o objetivo de se aproximar das
condições normais. Assim, deve-se colher uma amostra individualizada da
refeição que apresente maior risco de contaminação, devendo ser inserida no
saco esterilizado e, antes de fechar, deve-se retirar o ar.
Por fim,
identifica-se a amostra, preenche-se o Boletim de Colheita de Alimentos e
acondiciona-se a mesma, na mala térmica, previamente refrigerada
(termoacumuladores ou gelo acondicionado), de modo a que a amostra seja
transportada, a uma temperatura compreendida entre 1º e 8ºC..
Figura 2 - Boletim de Colheitas de Alimentos
Análise
microbiológica de géneros alimentícios/superfícies
Os
microrganismos patogénicos e as suas toxinas devem ser tomados em atenção. Os
parâmetros analisados são os microrganismos a 30ºC, as Enterobacteriaceae, as
Escherichia coli, as Cloristridium perfringens, os Bacillus cereus, os
Estafilococos coagulase positivo, as Salmonella spp, as Listeria monocytogenes
e as Listeria monocytogenes.
Após a realização das colheitas de amostra de alimentos, os resultados analíticos da qualidade microbiológica dos alimentos, podem ser expressos em:
Satisfatórios
– Os
resultados analíticos indicam uma boa qualidade microbiológica.
Aceitáveis
– Os
resultados analíticos indicam que o produto se encontra dentro dos limites
estabelecidos.
Não Satisfatório
– Os
resultados analíticos indicam que o produto não satisfaz um ou mais dos valores
estabelecidos.
Inaceitáveis – Os resultados analíticos indicam a presença de microrganismos patogénicos ou toxinas que poderão constituir um risco para a saúde. Este resultado deve ser comunicado imediatamente a unidade onde foi detetado, para que sejam tomadas as medidas que permitam corrigir a situação.
Inaceitáveis – Os resultados analíticos indicam a presença de microrganismos patogénicos ou toxinas que poderão constituir um risco para a saúde. Este resultado deve ser comunicado imediatamente a unidade onde foi detetado, para que sejam tomadas as medidas que permitam corrigir a situação.
Caso os
valores da análise da colheita de amostra de alimentos for imprópria para
consumo, os Técnicos de Saúde Ambiental, devem identificar a causa ou
causas do problema e tomar ações imediatas, procedendo a uma vistoria. Esta
permite verificar as condições das instalações, os procedimentos tidos durante
o processo de preparação, confeção e empratamento, bem como algumas
deficiências a nível de funcionamento e de equipamentos, que deverão ser
corrigidos com carácter de urgência. (formação do pessoal, equipamentos da
cozinha, procedimentos de limpeza) É também importante verificar a formação dos
manipuladores de alimentos em termos de Higiene e Segurança Alimentar e em
HACCP, Análise de Perigo e os Pontos Críticos de Controlo.
Em suma, a
segurança dos produtos alimentares é garantida pela implementação de medidas
preventivas, tais como o cumprimento de Boas Práticas e a Aplicação do Sistema
de Identificação de Perigos e Pontos Críticos de Controlo (HACCP), constituindo
as análises microbiológicas uma parte do sistema devendo ser realizadas com uma
periodicidade anual.
Deste modo,
através do Decreto-Lei n.º 117/95, de 30 de Maio, compete ao Técnico de Saúde
Ambiental “atuar no controlo sanitário do ambiente, cabendo-lhe detetar,
identificar, analisar, prevenir e corrigir riscos ambientais para a saúde,
atuais ou potenciais, na área de proteção sanitária básica e luta contra meios
e agentes de transmissão de doença, respetivamente, na participação em ações
que visem a higiene dos alimentos e dos estabelecimentos do sistema de proteção
e consumo.”
Referências Bibliográficas:
Ministério da Saúde.
Administração Regional de Saúde do Algarve, I.P. Departamento de Saúde Pública.
Boletim de Colheita Alimentos. Consultado a 11 de Novembro de 2012.
Ministério da Saúde.
Administração Regional de Saúde do Algarve, I.P. Departamento de Saúde Pública.
Procedimentos de Colheita de Alimentos. Consultado a 11 de Novembro de 2012
Ministério da Saúde.
Administração Regional de Saúde do Algarve, I.P. Departamento de Saúde Pública.
Programa de Promoção da Qualidade Microbiológica das Refeições em
Estabelecimentos de Educação. Consultado a 11 de Novembro de 2012.
Regulamento (CE) N.º 852/2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004. Higiene dos géneros
alimentícios. Consultado a 11 de Novembro de 2012
Mistério da Saúde. Instituto
Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Laboratório de Microbiologia dos
Alimentos. Centro de Segurança Alimentar e Nutrição. Procedimento de colheita
de amostras de refeições prontas a consumir para análise microbiológica.
Consultado a 11 de Novembro de 2012.
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