A Doença dos Legionários é uma infeção respiratória aguda sendo causada por bactérias do género Legionella. (Figura 1) Pode, nos casos mais graves, conduzir à morte.
Figura 1 - Bactéria do Género Legionella
A bactéria do
género Legionella, para além de se encontrar nos ambientes aquáticos
naturais (lagos, rios, etc.), também pode colonizar os sistemas artificiais de
abastecimento de água, nomeadamente, as redes de grandes edifícios como os
Empreendimentos Turísticos, quando encontra condições favoráveis à sua
multiplicação, nomeadamente:
- Existência
de nutrientes na água (biofilmes);
- Estagnação
da água (extensos troços de zonas mortas e pontos de extremidade da rede com
pouca utilização);
- Factores
físico-químicos (temperatura, pH, corrosão das condutas).
Os casos desta
doença estão associados à presença da bactéria nas redes prediais de água
quente e fria (torneiras e chuveiros), em equipamentos de climatização (torres
de arrefecimento, condensadores evaporativos, humificadores) e noutros
sistemas, como fontes ornamentais, piscinas (principalmente as aquecidas),
banheiras de hidromassagem, jacuzzis e sistemas de rega por
aspersão/mangueira.
Os factores
que favorecem a colonização da Legionella, nas redes prediais, são o pH,
que pode oscilar entre 2 e 8,5 e a temperatura da água, que em condições
óptimas, a multiplicação bacteriana faz-se entre 20º e 45ºC.
A infeção
transmite-se por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de
água, aerossóis inferiores a 5µm, contaminadas com bactérias, sendo importante
referir que não se transmite de pessoa para pessoa, nem pela ingestão de água
contaminada. Os sintomas desta doença são as febres, perda de apetite, dores de
barriga, dores de cabeça, tosses secas, dores musculares e diarreia. Esta
doença atinge principalmente pessoas adultas, com idade acima de 50 anos, sendo
raríssima em indivíduos abaixo dos vinte anos de idade, atingindo mais homens
que mulheres. Os fumadores, os doentes crónicos debilitantes (alcoolismo,
diabetes, cancro, insuficiência renal) e ainda os doentes com doenças com
compromisso de imunidade ou que imponham medicação com corticoides ou
quimioterapia constituem grupos de maior risco.
A Doença dos
Legionários é uma patologia que poderá estar associada às viagens e relacionada
com estadias em Estabelecimentos Hoteleiros. Regra geral, após cinco a seis
dias da inalação das bactérias presentes nas gotículas de água, poderão surgir
os primeiros sinais clínicos. O período de incubação pode variar entre dois a
dez dias. Contudo, a Doença dos Legionários pode manifestar-se só depois do
viajante regressar a casa, após uma estadia fora. É de realçar, que o caso só é
associado a viagens quando o doente passou pelo menos uma noite fora da sua
habitação, nos dez dias anteriores ou princípio da doença. Porém, nestas
situações, o Empreendimento Turístico onde o doente pernoitou não pode ser
implicado, com toda a certeza, como fonte de infecção. Considera-se como um
elemento a ter em atenção na investigação epidemiológica e não um dado
adquirido como prova inquestionável.
Esta doença é,
igualmente, uma pneumonia bacteriana grave que implica a adoção de medidas
especiais de alerta e de intervenção sempre que ocorra em Unidades Hoteleiras.
A doença pode ocorrer sob diferentes formas, sobretudo, nos meses de Verão e Outono, sendo estas:
Caso
Isolado: Caso relacionado com uma possível fonte de infeção, sem nenhum
outro caso associado à mesma, nos dois anos anteriores ao início da doença.
Cluster: Dois ou mais casos da
Doença dos Legionários associados à mesma possível fonte de infecção, tendo o
início da sintomatologia ocorrido num período inferior ou igual a dois anos.
Caso
associado a viagens: Caso de Doença dos Legionários ocorrido em doente que pernoitou
ou visitou um empreendimento turístico pelo menos uma noite fora de casa, no
pais de residência ou noutro, nos 15 dias anteriores ao inicio da doença.
Caso
Nosocomial: Doente hospitalizado por um período superior ou igual a 15 dias,
por motivo de outra doença, que adquire a Doença dos Legionários. Os casos que
iniciam sintomas até 15 dias após alta hospitalar, também podem adquirir a infeção
durante o internamento, pelo que se consideram possíveis casos nosocomiais.
Durante a
minha estadia, em Vila Real de Santo António, tive a possibilidade de realizar
várias actividades, no âmbito do Programa de Prevenção de Doença dos
Legionários, em Estabelecimentos Hoteleiros.
O Departamento
de Saúde Pública da ARS Algarve, I.P., consciente do risco da Doença dos Legionários,
pois o Turismo é a actividade económica com maior impacto na região, criou e
implementou o programa referido anteriormente.
Dos quatro
concelhos abrangidos pelo ACES Sotavento, o de Vila Real de Santo António é o
que apresenta um maior número de casos de Doença dos Legionários, associados a
estadias em Estabelecimentos Hoteleiros, facto justificado pelo maior número de
estabelecimentos existentes.
A Doença dos
Legionários é reconhecida desde 1976 e tem vindo a adquirir cada vez maior
importância, pelo número crescente de casos identificados, pela gravidade dos
mesmos e pelo impacto de surtos associados a estadias nos Estabelecimentos
Hoteleiros.
Deste modo,
sempre que a inspeção sanitária identificar a existência de anomalias, deve o
Delegado de Saúde tomar medidas convenientes e assegurar que estas são
necessárias para minimizar o risco de contaminação, multiplicação e dispersão
de Legionella, prevenindo o aparecimento de novos casos.
O objetivo
deste programa é prevenir a ocorrência da Doença dos Legionários relacionado
com estadias em Estabelecimentos Hoteleiros, no concelho de Vila Real de Santo
António. Igualmente, tem como finalidade incentivar a implementação de
actividades preventivas e de programas de controlo a desenvolver nos Estabelecimentos
Hoteleiros, identificar os de risco acrescido, reconhecer os que têm programas
de controlo, determinar as medidas preventivas adequadas à redução do risco de
colonização das redes e nos equipamentos e, por último, verificar se a
ocorrência dos casos da Doença dos Legionários são associados à laboração ou
estadia em Estabelecimentos Hoteleiros.
É importante a
participação e o contributo dos Técnicos de Saúde Ambiental no Programa de
Prevenção de Doença dos Legionários em Estabelecimentos Hoteleiros, desenvolvendo
as seguintes actividades:
- Sensibilizar
os responsáveis pelas Unidades Hoteleiras, que ainda não estão em programas,
para a importância do problema e para a pertinência da tomada de medidas
preventivas;
- Identificar
os Estabelecimentos Hoteleiros com ocorrência de casos de doença associados e
referenciados nos últimos cinco anos;
- Avaliar
anualmente o risco, sempre que as situações epidemiológicas o justifiquem, o
que inclui:
- A inspeção sanitária dos edifícios, instalações, sistemas e equipamentos;
- A identificação de pontos críticos e verificação do estado de funcionamento dos equipamentos;
- A verificação da existência de programas de operação e manutenção das instalações e equipamentos, com particular incidência na componente higio-sanitária;
- A verificação da implementação e manutenção de práticas adequadas à prevenção e controlo da Doença dos Legionários;
- A confirmação da existência de Legionella no âmbito de um programa de controlo da qualidade da água.
- Utilizar a
grelha de avaliação de risco *; (Figura 2)
- Determinar
medidas imediatas em função do risco avaliado;
- Confirmar se
os responsáveis tomaram as medidas adequadas no seguimento de casos anteriores
e/ou de colonização da rede e de que mantêm Programas de Controlo;
- Selecionar
os pontos onde deverão ser efetuadas as determinações da temperatura, do cloro
residual e dos pontos de colheita de amostras de água;
- Analisar e
apreciar os registos de cloro, temperatura e resultados analíticos do programa
de controlo;
- Executar o
Programa de Vigilância analítico nas unidades com casos de doença associados
nos últimos cinco anos, em estabelecimentos com colonização persistente nos
programas de controlo analítico e/ou vigilância analítica e nos
estabelecimentos com risco elevado;
- Determinar
medidas corretivas sempre que tal se julgue necessário.
* Nota: Um valor final com maior
pontuação corresponde sempre a um maior risco. Considera-se risco elevado
quando é superior a 100 pontos, risco moderado quando está entre 50 a 100
pontos e baixo risco quando é inferior a 50 pontos. Os valores obtidos deverão
apenas ser utilizados em avaliações sucessivas no mesmo estabelecimento, não
sendo possível comparar estabelecimentos diferentes.
Figura 2 - Grelha de Avaliação do Risco em Estabelecimentos Hoteleiros
MEDIDAS
DE PREVENÇÃO E CONTROLO
Quando a água
está contaminada pelas bactérias do género Legionella, o seu tratamento
é muito mais complexo. Todavia, as torres de arrefecimento, os sistemas de água
quente e fria e os sistemas de ar condicionado são os que representam maiores
preocupações, pela sua frequência.
As redes de
água quente e fria nos Empreendimentos Turísticos são, muitas vezes,
vulneráveis devido à frágil barreira, que tem como consequência a multiplicação
bacteriana. Essa fragilidade corresponde ao fraco teor de cloro residual livre
na água e às roturas na rede pública de abastecimento, permitindo entrada de
sedimentos. Por efeito, podem-se desenvolver as bactérias do género Legionella,
caso sejam criadas condições favoráveis. As zonas mais suscetíveis da Doença
dos Legionários são as associadas à formação de aerossóis, especificamente, às
saídas dos chuveiros, nas torneiras, nos banhos e nos jacuzzis, entre
outros. É de realçar, que os sistemas de abastecimento da rede predial podem
ser do tipo gravítico com reservatório ou do tipo pressurizado, em que a rede
principal está directamente ligada aos termoacumuladores.
Normas
Gerais de Construção
Nas
canalizações de rede predial é necessário ter atenção:
- As tubagens
e os reservatórios de apoio devem estar devidamente isolados para minimizar as
perdas de calor;
- Os
reservatórios de armazenamento, quando existem, devem dispor de uma válvula de
descarga de fundo e devem ser dimensionados para as flutuações normais de um
dia médio de consumo, sendo isolados e instalados em locais interiores
devidamente ventilados, onde as aberturas de ventilação estejam equipadas com
rede anti-insectos;
- Nalguns
pontos do sistema, podem instalar-se válvulas de mistura termoestática para
diminuir o volume de água quente armazenada. O ideal será cada válvula servir
só uma torneira, devendo ser testadas uma vez por mês e a cada três anos mudar
o atuador;
- Nos
termoacumuladores a temperatura não deve ser inferior a 70ºC, devendo ser
verificada cada três meses. Na água do circuito de retorno a temperatura não
deve ser inferior a 50ºC, isto é, nas saídas de água esta temperatura deve ser
alcançada após a água se escoar durante um minuto;
- Se existir
mais que um termoacumulador/caldeiras, estes devem obedecer a uma montagem em
paralelo e se a temperatura for usada como meio de controlo, então, à saída dos
mesmos deve atingir-se os 60ºC;
- O termóstato
que controla a temperatura deve estar colocado na zona intermédia do
termoacumulador, de forma a permitir atingir a temperatura de 70ºC, duas vezes
por semana;
- As montagens
não devem permitir a existência de pontos de estagnação ou curtos circuitos
hidráulicos, devendo possuir válvulas de descarga para remover os sedimentos
acumulados, com fácil acesso ao mesmo e a desinfecção seja frequente (seis em
seis meses ou uma vez por ano, no mínimo).
Normas
Gerais de Operação
- Evitar a
ocorrência de pontos mortos, normalmente associados a zonas de estagnação da
água, de preferência nos locais de pouco consumo de água, sendo aconselhado
efectuar descargas em pressão, pelo menos durante um minuto com alguma
regularidade (chuveiros e torneiras);
- Desmontar,
semestralmente, as torneiras e os crivos das cabeças dos chuveiros, para
limpeza de detritos acumulados e posterior desinfecção, substituindo-se as
juntas e filtros;
- Quando se
utiliza a temperatura como forma de controlo de Legionella, deve ter-se
em linha de conta que a partir dos 60ºC existe uma elevada taxa de inatividade
bacteriana e entre os 50º e os 60ºC a mesma taxa é lenta. É conveniente efetuar
descargas em vários pontos do sistema com alguma regularidade;
- Os depósitos
de água quente devem ser esvaziados semestralmente, a fim de poderem ser limpos
e desinfetados. No entanto, quando se suspeita de colonização por Legionella,
a frequência deve ser maior e as descargas de fundo semanais;
- É importante
manter a temperatura abaixo dos 20ºC nos sistemas de água fria;
- O tanque de
armazenamento de água fria deve estar colocado num lugar fresco e devidamente
protegido, para não ocorrer oscilações de temperatura superiores a 2ºC, em
relação à temperatura normal de referência, devendo ser fácil de inspecionar;
- É necessário
realizar purgas aos depósitos de água fria com regularidade e desinfetar o
depósito, uma vez por ano.
Controlo
Analítico
Nas redes de
água quente e fria é importante fazer uma monitorização diária dos seguintes
parâmetros:
- Temperatura;
- Cloro
Residual Livre;
- pH.
O controlo
analítico é essencial para monitorizar a eficácia das actividades preventivas
desenvolvidas, devendo ser efectuadas análises na rede de água quente e fria,
com a seguinte periodicidade:
Mensal, se houver deteção de Legionella
na rede;
Quadrimestral, desde que haja dois
meses consecutivos de resultados negativos e controlo adequado da temperatura e
cloro, sem excluir as análises extraordinárias que forem julgadas necessárias.
Material necessário para a
realização das colheitas de amostras
Colheita da amostra de Legionella
Realizei
colheitas da amostra de Legionella apenas nos sistemas de água quente e
fria dos Estabelecimentos Hoteleiros do concelho de Vila Real de Santo António.
(Figura 3) Estas amostras, dependendo da necessidade, são colhidas num
chuveiro, numa torneira ou na torneira do circuito de retorno dos
Estabelecimentos Hoteleiros.
Colheita
nas torneiras e nas torneiras do circuito de retorno
O procedimento
da colheita de água nas torneiras é idêntico ao das torneiras do circuito de
retorno. Assim, deve-se destapar o frasco de colheita próximo da torneira e
colher a água que sai imediatamente à abertura desta. Seguidamente, fecha-se o
frasco e deixa-se a água correr até a sua temperatura estar estabilizada. Deste
modo, deve-se determinar a temperatura, o pH e cloro residual livre da água. A
colheita de amostra de água deve ser identificada e transportada para o
laboratório para análise numa mala térmica, à temperatura ambiente e ao abrigo
da luz solar e acompanhada do boletim de colheita de Legionella.
Colheita
nos chuveiros
O procedimento
da colheita de amostra de água é diferente das anteriores. Assim, deve-se
introduzir o chuveiro dentro de um saco plástico esterilizado com aberturas nas
duas extremidades. De seguida, deve-se encher o frasco até meia altura com o
fluxo inicial, mantendo-o inclinado e sem contacto com a torneira devendo-se
fechar o frasco de colheita e a torneira. Este procedimento é para realizar a
zaragatoa, isto é, recolher uma pequena amostra dos resíduos acumulados
(biofilmes) na saída dos chuveiros, para verificar se existe a bactéria do
género Legionella. Após este procedimento, repete-se o processo de
recolha de água, enchendo o frasco na totalidade. Por último, é fundamental
determinar a temperatura, o pH e cloro residual livre da água, após a
temperatura da água estabilizar. A colheita de amostra de água deve ser
identificada e transportada para o laboratório para análise numa mala térmica,
à temperatura ambiente, ao abrigo da luz solar e acompanhada do boletim de
colheita de Legionella.
Nota: Se caso ache necessário utilize
luvas e máscara de proteção respiratória (Bico de Pato)
Figura 3 - Imagens da realização da colheita de amostra de Legionella
Avaliação
e Gestão do Risco em Função dos Resultados Analíticos
A situação
ideal seria a ausência de Legionella na água. Na gestão do risco temos
que considerar sempre vários factores como a concentração de colónias e a
existência de casos de doenças associadas no passado e no presente.
O Decreto-Lei
n.º 79/2006, de 4 de Abril que aprova o Regulamento dos Sistemas Energéticos de
Climatização em Edifícios, refere no artigo 29, n.º 9 que “Em edifícios com
sistemas de climatização em que haja produção de aerossóis, nomeadamente onde
haja torres de arrefecimento ou humificadores por água líquida, ou com sistemas
de água quente para chuveiros onde a temperatura de armazenagem seja inferior a
60º C as auditorias da Qualidade do Ar Interior incluem também a pesquisa da
presença e colónias de Legionella em amostras de água recolhidas nos
locais de maior risco, nomeadamente tanques das torres de arrefecimento,
depósitos de água quente e tabuleiros de condensação, não devendo ser excedido
um número superior a 100 UFC”. *
*UFC – Unidades Formadoras de Colónias
Os quadros
seguintes estabelecem linhas de orientação para as medidas de controlo a adotar
e ou as medidas a determinar pela autoridade de saúde. Na observação destes
valores devem também ser considerados, outros aspectos como a persistência da
colonização e a suspeita ou existência de casos associados a estadias no
estabelecimento hoteleiro.
A – Gestão
do Risco em Função de Valores Analíticos de Legionella na rede Predial
de Água
*CFU/Litro – Unidades Formadoras de Colónias por Litro
B- Gestão
do Risco em Função de Valores Analíticos de Legionella em Equipamentos
de Climatização (Torres de Arrefecimento, Condensadores Evaporativos e
Humificadores
*CFU/Litro – Unidades Formadoras de Colónias por Litro
Procedimentos
de Descontaminação
Caso o
resultado da colheita de amostra de Legionella dê positivo, os
Estabelecimentos Hoteleiros deverão seguir procedimentos de descontaminação em
toda a rede predial de água.
Desta forma, é
possível realizar dois tratamentos, sendo estes:
- Desinfeção
Química (super-cloragem) - Recorre-se à adição de cloro na água de modo a obter valores de
cloro residual livre de 15 mg/l, 30 mg/l ou mesmo 50 mg/l, para tempos de
contacto de 24 horas, 2 horas e 1 horas respetivamente, seguindo-se uma segunda
desinfeção da água de modo a obter valores de cloro residual de 4 a 5 mg/l
durante um tempo de contacto de 12 horas.
- Desinfeção
Térmica (choque térmico) - Elevar a temperatura da água a 70ªC, fazendo a recirculação em
todo o sistema e purgando todas as torneiras sequencialmente durante um a dois
minutos com uma temperatura igual ou superior a 60ºC, mantendo a recirculação
durante duas a vinte e quatro horas.
SÍNTESE
DOS PROCEDIMENTOS QUE OS TÉCNICOS DE SAÚDE AMBIENTAL DEVEM SEGUIR:
Os Técnicos de
Saúde Ambiental no Programa de Prevenção de Doença dos Legionários em
Estabelecimentos Hoteleiros têm que seguir algumas normas relativas a inspeção
sanitária. Desta forma, os Técnicos de Saúde Ambiental têm que preencher uma
Grelha de Avaliação do Risco em Estabelecimentos Hoteleiros, periodicamente,
para verificar os riscos possíveis em cada Estabelecimento Hoteleiro,
realizando alguns procedimentos como, medição do cloro residual livre, do pH e
da temperatura. (Figura 2) No caso, do Estabelecimento Hoteleiro não
monitorizar e controlar os seus sistemas prediais de água é-lhe entregue
informação referente à Monitorização e Controlo: Actividades a Desenvolver pela
Unidade Hoteleira para colocar em prática. (Figura 4) É importante referir que
estes realizam as colheitas de amostra de Legionella, sendo importante
verificar novamente o cloro residual livre, o pH, a temperatura e o
preenchimento de um Boletim de Colheita de Amostra de Legionella.
Quando ocorrem
casos da Doença dos Legionários possivelmente associados a estadias em Unidades
Hoteleiras, o Técnico de Saúde Ambiental realiza o Inquérito Epidemiológico (2º
fase): Estudo Ambiental, que inclui a realização de colheitas de amostras de
água e avaliação do risco que o Estabelecimento poderá ter. (Figura 5)
No caso de
ocorrência de um Cluster, terá ainda que se preencher um formulário duas
semanas depois da ocorrência da Doença dos Legionários (European Legionnaires'
Disease Surveillance Network - Form A – Two Week post – Cluster report) e um
outro seis semanas depois da ocorrência da Doença dos Legionários (European
Legionnaires' Disease Surveillance Network - Form B – Six Week post – Cluster
report), que irá ser entregue a European Centre for Disease Prevention and
Control (ECDC). (Figura 6 e 7)
Figura 4 - Monitorização e Controlo: Actividades a Desenvolver pela Unidade Hoteleira
Figura 5 - Inquérito Epidemiológico (2ª fase): Estudo Ambiental
Figura 6 - Imagens fotografadas na visita a Praia Fluvial European Legionnaires "Diseases Surveillance Network - Form A - Two Week post - Cluster Repor
Figura 7 - European Legionnaires "Disease Surveillance Network - Form B - Six Week post - Cluster Report
Em suma, a
Doença dos Legionários constitui um problema para a Saúde Pública,
verificando-se uma clara relação causa-efeito com a colonização das bactérias
do género Legionella na água, em sistemas de grandes edifícios,
sobretudo quando esses sistemas estão mal concebidos, mal instalados ou com má
manutenção. Existem duas situações distintas, que não se devem confundir. Uma
representada pela colonização das bactérias, deste género, na água e a outra
caracterizada pelo aparecimento de um ou mais casos da Doença dos Legionários.
É notório, que as condições ambientais que favorecem a colonização em sistemas
artificiais de água por bactérias do género Legionella, são
essencialmente, a temperatura, a estagnação e a existência de nutrientes na
água, como já referi.
Assim,
detalhadamente, as condições para este desenvolvimento são as seguintes:
- Temperatura
da água entre os 20º e os 45ºC, sendo o crescimento mais favorável entre os 35º
e os 45ºC;
- Condições de
pH entre os 2 e os 8.5;
- Zonas de
estagnação de água;
- Aparecimento
de sedimentos na água que suportam o crescimento das bactérias do género Legionella;
- Formação de
aerossóis, com dimensões de 1 a 5µm, associados à utilização de chuveiros, aos
sistemas das torres de arrefecimento, ar condicionado e outros equipamentos que
contribuam para a sua reprodução.
Nesta perspetiva,
é necessário que as medidas gerais de controlo estejam associados à boa
concepção, instalação e manutenção dos sistemas e dos equipamentos,
evidenciando a importância em:
- Evitar a
libertação de sprays e aerossóis;
- Nos sistemas
não usar materiais que permitam a aderência dos microrganismos e a formação de
biofilmes;
- Manter os
sistemas devidamente limpos, evitando o aparecimento de sedimentos e
nutrientes;
- Evitar que
as temperaturas da água fria ultrapassem os 20ºC e que, por outro lado, as
temperaturas dos depósitos de água quente não desçam abaixo dos 60ºC e que esta
circule entre os 50º e os 55ºC;
- Recorrer a
programas de tratamento adequados, mantendo valores de cloro residual livre
entre 0.2 e 0.4 mg/l;
- Ter em
funcionamento um programa de monitorização e de inspeção a todos os sistemas e
equipamentos;
- Assegurar
que todos os sistemas e equipamentos operam em segurança e que as ações de
manutenção são corretamente feitas de acordo com as especificações do
fabricante e as recomendações;
- Estabelecer
procedimentos de limpeza e desinfeção adequados;
- Controlar a
qualidade da água, realizando com regularidade a pesquisa de bactérias do
género Legionella nos pontos mais sensíveis dos sistemas;
- Fazer
relatórios com registos das ações de monitorização, manutenção e inspeções efetuadas.
“Mais vale Prevenir, que remediar…”
“Mais Saúde… Melhor Turismo…”
Referência Bibliográfica:
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Circular Normativa n.º 06/DT de 22 de Abril de 2004. Programa de Vigilância
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Epidemiológica. Consultado a 06 de Novembro de 2012.
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Prevention and Control (ECDC). (2010)
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Soares. A. & Amaral. C. &
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